Já parou para pensar que quando estamos viajando e conhecendo um novo lugar, normalmente notamos detalhes comuns que passam despercebidos no nosso dia-a-dia? Pode ser o formato de uma fachada de loja, o tipo de pavimentação de uma praça, o padrão de vestimenta das pessoas, os sons do entorno, entre outras coisas. A pergunta é: por que os mesmos detalhes quando presentes em nossa rotina diária acabam se tornando “invisíveis”?
A situação relatada tem muito a ver com o chamado mecanismo da “atenção”, que nada mais é do que uma forma do cérebro selecionar, dentre os milhares de estímulos ambientais captados pelos nossos órgãos dos sentidos, aquele que será priorizado para uma resposta. Este mecanismo pode ser deliberado, quando focamos intencionalmente nossa atenção em algo (como ler um livro em um ambiente barulhento), ou automático, quando algo faz com que nossa atenção seja irresistivelmente “sequestrada”, como acontece quando ouvimos um barulho que possa indicar perigo, tal como uma explosão ou sirene.
Acontece que manter uma atenção focada gasta energia… e economia de energia é um aspecto crítico para a sobrevivência. Os seres vivos empregam diferentes estratégias anatômicas, fisiológicas e comportamentais para promover a economia de energia em seus diferentes processos biológicos e, no caso da atenção, esta economia ocorre transferindo ações repetitivas ou que não precisam de julgamento, para porções subconscientes do cérebro, que passam a ser executadas sem a necessidade de atenção deliberada. Um exemplo disso é a diferença entre quando somos iniciantes na tarefa de dirigir um veículo, e prestamos atenção em tudo, e quando já somos experientes, momento na qual é possível manter uma conversa, ouvir uma música ou procurar um endereço enquanto controlamos o carro no “automático”.
Se a economia de energia é um ponto positivo trazido pela automatização do comportamento, a falta de sensibilidade para os detalhes pode se tornar um ponto negativo caso ela impeça uma pessoa de analisar o seu ambiente e entender, de fato, o que precisa ser mudado. Estar no automático em uma rotina pessoal ou profissional pode dificultar um olhar mais cuidadoso do contexto e da causa-raiz de um problema, o que são fundamentais na etapa de imersão do processo criativo. Além disso, viver no automático compromete a criação de um repertório de vida mais vasto e poderoso, o que potencializa a geração de novas idéias!
Com isso, além de ser mais difícil ter boas idéias sem entender em profundidade o problema que precisa ser resolvido, muitas vezes também não vemos uma solução que está bem à nossa frente. A melhor solução é ter o exercício deliberado e frequente de perceber os elementos que compõem a sua rotina, entendendo-os e, por vezes, questionando-os!