A biomimética, como área de conhecimento que reconhece a sabedoria e capacidade de resolução de problemas pela natureza, tem em si um forte caráter investigativo. Ela busca as soluções já obtidas pela vida para desafios semelhantes aos que temos hoje, fazendo disso repertório para o design de novos produtos, serviços, instituições e comportamentos.
Ao olharmos para a terra é possível enxergar uma complexa rede de organismos interconectados e interdependentes, que correspondem hoje a apenas 0,1% do total das espécies que já viveram em algum momento da história evolutiva. Isso faz com que, nos 3,8 bilhões de anos de tentativa e erro do laboratório da vida, um conjunto com as mais poderosas estratégias de sobrevivência tenha sido selecionada. Assim, as espécies existentes hoje representam histórias de sucesso para as condições do planeta.
A comunidade científica tem trabalhado nos últimos anos para identificar como a natureza funciona e uma visão inicial pode levar a crer que cada organismo tenha uma maneira única de sobreviver em seu ambiente. No entanto, após uma análise mais profunda foi possível identificar padrões de ocorrência frequente, como formatos corporais, mecanismos semelhantes de locomoção ou utilização de uma mesma reação química, que em biomimética são chamados de “princípios profundos”.
Alguns padrões, no entanto, são ainda mais comuns entre as espécies que estes “princípios profundos”, sendo encontrado uniformemente em quase todos os organismos. Tais padrões são chamados “princípios da vida” e têm sido responsáveis por sustentar a vida ao longo de 3,8 bilhões de anos, sendo os critérios utilizados por biomimeticistas para direcionar e validar as escolhas dentro de um processo de inovação inspirada na natureza. O conjunto de princípios da vida é uma importante referência para integrar a biomimética no ambiente profissional e pessoal da sociedade humana.
Os princípios da vida foram, ao longo de anos, sendo avaliados e documentados em um processo crescente de construção, que contou com a ajuda de diversos pesquisadores. Atualmente a Biomimicry 3.8, referência mundial em biomimética, considera os seguintes princípios da vida: 1) Adaptar-se às mudanças de condições; 2) Estar localmente sintonizado e responsivo; 3) Use química favorável à vida; 4) Ser eficiente no uso de recursos materiais e energéticos; 4) Integrar desenvolvimento com crescimento; e 5) Evoluir para sobreviver. Estes princípios embora sejam independentes, possuem uma significativa interconexão e complementaridade entre si.
Entender os padrões que conduzem a vida é fundamental não apenas para suportar processos de inovação inspirados na natureza, mas também para nos mostrar os caminhos práticos para nos reconectarmos à nossa essência natural enquanto espécie integrada ao planeta.