Provavelmente você já viu algum tipo de produção cinematográfica onde o futuro é retratado a partir de uma visão distópica do mundo, ou seja, representando uma realidade em que se vive em condições de opressão e sofrimento. O motivo para a utilização desta abordagem são variadas, passando de um mero instrumento para geração de lucro até a utilização da produção para a denúncia de comportamentos e situações que colocam em jogo a integridade e felicidade das pessoas.
Mas, e quanto a um “futuro biomimético”… você já ouviu algo sobre isso?
A biomimética é a área de conhecimento que reconhece a sabedoria e capacidade de resolução de problemas pela natureza, utilizando-a como fonte de inspiração em processos de inovação que enfrentam desafios humanos. Um futuro biomimético pode representar uma realidade onde tenhamos uma relação de aprendizado com a natureza, absorvendo sua tecnologia e mantendo viva a nossa conexão com ela. Este futuro, além de mais eficiente do ponto de vista de equilíbrio planetário, é também benéfico para a construção de uma sociedade onde o pensamento e abundância, e não de escassez, seja predominante.
Segundo Janine Benyus, uma das principais referências em biomimética do mundo, para alcançarmos este futuro biomimético, é preciso que quatro conceitos norteadores estejam presentes:
1. Estar imerso na natureza
Não basta conhecer sobre natureza. É preciso estar na natureza e senti-la.
Muitas crianças hoje estão totalmente mergulhadas em um mundo virtual e talvez nunca tenham tido a oportunidade de observar e sentir as belezas de uma caminhada em meio a uma floresta. Pense nesta situação se arrastando por toda uma vida… Isso teria o potencial de criar indivíduos adultos que, embora parte da natureza, se comportem como seres separados dela, gerando com isso graves riscos para ele, para a sociedade e para o planeta.
2. Conhecer em profundidade a fauna e a flora
Não basta ter um conhecimento raso. É preciso mergulhar na bela complexidade da vida.
Cada vez mais, deverá ser valorizado o papel de investigador do meio natural, não apenas para a nomeação de espécies, mas também para o descobrimento das estratégias utilizadas por animais e plantas para sobreviver e se perpetuar no mundo natural.
3. Ter biólogos e engenheiros cocriando, tendo a natureza como medida e modelo
Não basta uma abordagem unilateral da vida. É preciso ter diferentes olhares trabalhando juntos.
É preciso que profissionais com conhecimento da natureza estejam na mesma equipe que engenheiros e outros profissionais com capacidade de criação. Esta cocriação pode ser feita de diversas maneiras, seja em ambientes de trabalho em projetos, participação em eventos comuns ou até pela criação de um banco de dados com informações de fauna e flora disponível na internet.
4. Preservar a diversidade da vida
Não basta isolar áreas naturais. É preciso também ter um outro tipo de relação com o planeta.
Com o aumento da população, a manutenção do nosso padrão de vida (e aumento daqueles que hoje sofrem com a extrema pobreza) iria culminar em maior pressão sobre o planeta. Para os biólogos a alternativa seria conduzir plano de proteção de habitats e espécies, que incluem não apenas a salvaguarda de ecossistemas, mas a interação responsável com eles, entendendo a necessidade disso não apenas do ponto de vista econômico, mas também ético e de manutenção das relações complexas que sustentam a vida na terra.
Estes 4 pilares falam fundamentalmente de conexão com a natureza e com as outras pessoas. Um futuro de abundância e preservação não poderá ser construído de maneira solitária. É preciso criar de maneira conjunta e entendendo, mesmo que em parte, a beleza, sabedoria e eficiência da vida, fazendo com que estes atributos sejam mimetizados na sociedade humana.