O laboratório de 3,8 bilhões de anos

A inovação é fruto de um processo estruturado e dividido em etapas com objetivos diferentes. Inicialmente, é importante ter a clareza do desafio a ser atacado e quais as suas características de contexto, o que é sucedido por uma etapa de concepção e materialização de uma ideia e, por fim, uma etapa de validação e ajustes. Caso o produto deste processo seja desejável pelo público-alvo, exequível pela equipe e viável financeiramente para a empresa, ele será conduzido então para o momento de escala e melhora contínua de performance.

Com relação à segunda etapa, de concepção e materialização de uma ideia, existe um fator crítico que muitas vezes é negligenciado: o repertório utilizado como base das novas ideias. Podemos definir repertório como as vivências, aprendizados e informações disponíveis para criar uma proposta de solução, funcionando como a “matéria-prima” da criatividade. Um maior repertório pode ser conquistado pela experimentação de diferentes contextos e pela potencialização da diversidade de uma equipe. É mais difícil gerar boas ideias quando se tem apenas a visão de mundo de um contexto ou de um mesmo tipo de pessoas na equipe.

Mas e se o repertório a ser utilizado no processo de inovação não precisasse ser restrito apenas ao conhecimento humano? Já parou para se perguntar como alguns animais conseguem sobreviver em ambientes com baixa disponibilidade de água? Como algumas plantas rasteiras conseguem realizar fotossíntese na sombra de florestas fechadas por árvores que podem chegar até 78 metros de altura, como o angelim-vermelho? Ou como as tartarugas marinhas conseguem retornar exatamente à mesma praia que nasceram após anos no mar?

O surgimento de nossa espécie data cerca de 200 mil anos, contra os 3,8 bilhões de anos da história da vida, o que significa que a maior parte da história de adaptações frente à desafios como manutenção de temperatura, obtenção de recursos, conservação de água, sucesso reprodutivo e outras diversas, aconteceram bem antes de nós. A vida é especialista em superar desafios de sobrevivência utilizando soluções vindas da anatomia, fisiologia, comportamento e interações ecológicas, seja em um organismo unicelular ou no maior mamífero do mundo, a baleia-azul, que pode atingir 180 toneladas.

Utilizar o repertório natural no processo de inovação é uma estratégia poderosa para ampliar as possibilidades de resolução de problemas. Na prática é se valer de estratégias de sucesso aderentes à dinâmica ecológica (portanto sustentáveis), obtidas a partir da curva de aprendizado de 3,8 bilhões de anos do maior laboratório de inovação do planeta: a natureza!

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